quarta-feira, 30 de janeiro de 2008


19 anos depois tudo e nada mudou.
Uma otite que teimava em não passar levou-me de novo ao médico. Quis consultar o especialista que me tinha acompanhado quando eu era pequena.
Fui vista não por ele, mas pelo irmão, também ele um conceituado otorrinolaringologista, e confesso que o detestei.
Assim que entrei no consultório, nem me olhou. Limitou-se a analisar o meu processo em silêncio durante alguns minutos, após o que disse em tom muito seco:

“Onde é que andou estes anos todos?”

Aquela frase gerou em mim um misto de tristeza e de incrédulidade. Mas acima de tudo, de incompreensão.
Quando se ouviu falar sobre implantes cocleares pela primeira vez neste país, anos antes, o meu pai pegou em mim e levou-me a uma consulta.
“Não vale a pena pensarmos nisso” disse o médico, com palavras que tomámos como sábias.
“Os ganhos com a operação vão ser tão reduzidos que não compensam o risco”.

Não me chocava. Não me magoava. Não destruía nada em mim porque não havia nada para destruír. Sempre tinha vivido em harmonia com a minha deficiência, e para mim estava tudo bem.

Mas naquele dia tudo foi diferente. Saí de lá diferente: com esperança.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Este silêncio que me rodeia


Quando tinha 9 anos, uma tragédia abateu-se sobre a minha família.
É essa a minha forma de ver as coisas, porque algo me aconteceu e sinto, ou melhor, sei, que quem sofreu foram aqueles que me rodeavam.
Com 9 anos não se tem grandes sonhos, por isso não há uma quebra nas expectativas de um futuro promissor.
Aos 9 anos não se sente nem se pensa naquilo que se perde, pelo simples facto de o futuro estar demasiado longe.
Por isso não se sofre.

Eu tinha 9 anos quando fiquei surda e, por incrível que pareça, não me afectou. Pelo menos, não da forma como toda a gente pensará.

Não me recordo de verter uma única lágrima de mágoa, raiva, ou desespero. Verti lágrimas, sim, por ver a minha família desolada. Devido a mim.

Via-os conversando com amigos, visitando médicos, tentando tudo ao seu alcance para me tirarem daquele silêncio que sempre viram como castrador, mas a meningite tinha sido demasiado forte, causando uma surdez neurosensorial profunda.
Os médicos ainda deixaram uma réstea de esperança de uma operação aos 18 anos, e lembro-me de sonhar para que o tempo passasse depressa, para poder voltar a ser “normal”.
No entanto depressa me fui habituando ao silêncio, compreendendo que essa seria a minha sina daí para diante.

Num instante ouvir, e no instante seguinte já não, reduziu drasticamente o meu mundo, na medida em que o meu círculo de amigos ficou mais pequeno. Por isso às vezes sinto que vivi numa redoma de vidro, de onde via as outras crianças brincarem, rirem, crescerem felizes entre tudo aquilo a que uma criança deve ter direito, mas nem por isso ficava triste.
Tive toda a felicidade do mundo, à minha maneira.
Mesmo no meu mundo silencioso.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Curso de futebol


isto é, no mínimo, interessante...

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

11:11

É raro o dia em que eu não olhe para o relógio, e este marque 11:11... não 11:10, não 11:12, mas sempre 11:11.

Desenganem-se se pensam que é propositado.
É o meu instinto, olhar para as horas no telemóvel que repousa sempre ao meu lado. Esteja a trabalhar ou não, quando decido dar uma vista de olhos, lá está! 11:11
Parece que o tempo está à espera que eu olhe para marcar este número curioso...

Agradeço a quem me puder explicar este fenómeno, pois começo a ficar com uma certa fobia ao 11!