quarta-feira, 30 de janeiro de 2008


19 anos depois tudo e nada mudou.
Uma otite que teimava em não passar levou-me de novo ao médico. Quis consultar o especialista que me tinha acompanhado quando eu era pequena.
Fui vista não por ele, mas pelo irmão, também ele um conceituado otorrinolaringologista, e confesso que o detestei.
Assim que entrei no consultório, nem me olhou. Limitou-se a analisar o meu processo em silêncio durante alguns minutos, após o que disse em tom muito seco:

“Onde é que andou estes anos todos?”

Aquela frase gerou em mim um misto de tristeza e de incrédulidade. Mas acima de tudo, de incompreensão.
Quando se ouviu falar sobre implantes cocleares pela primeira vez neste país, anos antes, o meu pai pegou em mim e levou-me a uma consulta.
“Não vale a pena pensarmos nisso” disse o médico, com palavras que tomámos como sábias.
“Os ganhos com a operação vão ser tão reduzidos que não compensam o risco”.

Não me chocava. Não me magoava. Não destruía nada em mim porque não havia nada para destruír. Sempre tinha vivido em harmonia com a minha deficiência, e para mim estava tudo bem.

Mas naquele dia tudo foi diferente. Saí de lá diferente: com esperança.

Sem comentários: