quarta-feira, 19 de março de 2008

a minha voz


Quando era pequena, irritava-me profundamente ter a minha família a mandar-me falar.
Falar muito e falar alto.
Na minha cabeça de criança, não fazia sentido. Olhava para eles, muito senhora de mim, e respondia torto a maior parte das vezes. Sim, porque eu refilo!
A verdade é que o faziam para eu não deixar de falar uma vez que, dizem, é comum acontecer quando se deixa de ouvir.
Eu ria-me de tal barbaridade, mas isso era eu que era um espírito rebelde.
Mau, era ver a minha família zangada comigo quando eu falava sem som ou, pior ainda, quando as minha primas, com quem tinha contacto mais directo, me falavam assim também, para só eu poder perceber o que elas diziam.

O que eles não sabiam, era que falávamos assim apenas na presença deles, para podermos falar à vontade sobre os nossos segredos...

Por esta mesma razão nunca aprendi LGP (língua gestual portuguesa). Por um lado foi bom, pois estive sempre integrada (a bem ou a mal) no meio dos ouvintes, mas por outro lado sinto que limitaram em muito a minha aprendizagem.

Não faço ideia de como é a minha voz, por isso não a posso descrever. A única coisa que sei é que tenho um sotaque que me persegue e faz toda a gente pensar que está perante uma estrangeira, facto que me diverte mais do que me chateia.
Já passei por espanhola, por inglesa, por romena, por ucraniana, e tudo isto porque “falo de memória”.
No entanto, desde que recebi o implante, tenho recuperado a minha fala, o que me faz acreditar piamente que, mais um pouco, e serei genuinamente portuguesa!

3 comentários:

marco disse...

Acho que sempre e para sempre serás "russa"!
Quanto a seres genuinamente portuguesa, sempre o foste, pelo menos para mim!

marco disse...

Esqueci-me de dizer que realmente ÉS MUITO REFILONA!!!
Aparentemente, desde pequena!
Velhos hábitos....

eheheh

sonia disse...

Olha , eu adorei quando me ligaste hà uns séculos atràs para que eu ouvisse o teu "olà". Nunca me vou esquecer!
beijinhos linda

P.s Ainda bem que refilas!! lol